Editorial
Resumo
O ano de 2002 é e será um marco na história da terapia ocupacional mundial e brasileira. É um ano de jubileu em que comemoramos os 50 anos da Federação Mundial de Terapia Ocupacional (World Federation of Occupational Therapists–WFOT), que é a organização oficial internacional para a promoção e desenvolvimento da terapia ocupacional.
A WFOT foi fundada em 1952 com apenas dez países, mas atualmente 57 países a compõe, e seus representantes estarão presentes na Suécia, local de sua fundação, para celebrar o meio século de existência bem como para participar da 25ª Reunião do Conselho da Federação Mundial de Terapia Ocupacional e do 13º Congresso Mundial de Terapia Ocupacional.
Entre as inúmeras atividades da Federação Mundial de Terapia Ocupacional destacamos as de representação e divulgação (por exemplo, junto à Organização Mundial de Saúde - OMS, International Disability, ONGs diversas, entre outras), promoção de intercâmbios profissionais, rede de comunicação através da Internet (Occupational Therapy International Outrech Network-OTION), publicações (revista bianual de divulgação informativa e científica - WFOT Bulletim, livros, folhetos, CD-Roms e disquetes) e a realização de Congressos Científicos Mundiais a cada quatro anos.
O Brasil por meio da Associação Brasileira de Terapia Ocupacional - ABRATO, é membro efetivo da WFOT desde 1994, embora tenha sido membro associado desde a década de 70. A atuação brasileira se efetiva através da participação de seus delegados em comissões de trabalhos. Nestes últimos oito anos estivemos continuamente envolvidos nas comissões de “Cooperação Internacional” e de “Educação e Pesquisa”, que se reúnem para deliberações a cada dois anos nas Reuniões do Conselho.
A revisão dos padrões curriculares mínimos para o ensino de graduação em terapia ocupacional ou as novas diretrizes curriculares mundiais, é o grande projeto que vem sendo desenvolvido pela comissão de “Educação e Pesquisa”. A revisão atual, identificada como sendo um projeto prioritário e em andamento desde 1998, começou a partir de duas demandas específicas.
A primeira decorrente da necessidade de alguns países, que solicitavam subsídios para a criação e abertura de cursos de terapia ocupacional e de outros países que queriam orientações mais claras sobre o processo de monitoramento que é realizado a cada cinco anos.
A segunda demanda era explícita para que fosse realizada uma ampla revisão dos “Padrões Mínimos”, a partir da percepção de necessidades de flexibilização dos conteúdos curriculares e também uma normatização mais abrangente para os requisitos das práticas supervisionadas, que estavam sendo considerados muito restritivos, não correspondendo mais às inúmeras novas possibilidades de áreas/campos de intervenção da terapia ocupacional.
Além disso, a mudança do paradigma no antigo binômio ‘saúde e doença’ no contexto mundial influiu diretamente no modelo de capacitação dos profissionais para a área de saúde e estas influências repercutiram também no processo de formação e educação em níveis internacionais e nacionais de todos os profissionais incluindo-se aí o terapeuta ocupacional.
A partir de estudos, questionários, feed-backs e colaborações dos diversos países participantes serão aprovados os novos Padrões Curriculares Mínimos da Federação Mundial de Terapia Ocupacional para o ensino de Graduação que deverão ser implantados paulatinamente ao longo dos próximos cinco anos e concomitantemente sendo submetidos a avaliação.
Esta tarefa se constitui em um dos nossos grandes desafios, uma vez que atualmente, dos mais de 30 Cursos de Graduação em Terapia Ocupacional existentes no país, apenas três são reconhecidos e credenciados junto a WFOT. A perspectiva é que em poucos anos consigamos ter todos, ou senão a maioria dos Cursos brasileiros em consonância tanto com as diretrizes curriculares norteadoras nacionais como com as que estão sendo propostas mundialmente.
Por enquanto caberá a nós a divulgação, discussão e reflexão coletiva destes novos parâmetros curriculares durante o VIII Encontro Nacional de Docentes, a ser realizado em Campo Grande neste ano de 2002 e disseminá-los para toda a categoria profissional.
Estas preocupações também vêm ecoando no subgrupo regional da WFOT “Américas”, recentemente organizada (1997) sob a Confederación Latinoamericana de Terapeutas Ocupacionales – CLATO e que congrega países da América do Sul e Central, México, Estados Unidos e Canadá.
A CLATO realizou no Chile, pela primeira vez em 2000, uma Jornada de Trabalho sobre a formação dos terapeutas ocupacionais na América Latina, na qual se buscou diagnosticar a situação dos Cursos em cada país, destacando-se principalmente as dificuldades encontradas. Como resultado deste evento foi produzido um documento “Lineamientos para la formación de terapeutas ocupacionales en Latinoamérica”, que deverá ser retomado e ampliado em 2003 durante novo encontro no VIII Congresso Brasileiro e V Congresso Latinoamericano de Terapia Ocupacional a ser realizado em Foz do Iguaçu.
Em termos de perspectiva mais próxima, acontece ainda em 2002 o 13º Congresso Mundial de Terapia Ocupacional que tem como temas centrais: “Ações para participação em sociedade no século 21: um desafio para terapeutas ocupacionais, e ações para saúde em um novo milênio”, “Ações para funções, atividades e ocupação: um projeto de construção de participação”.
Estes Congressos vêm se realizando desde 1954 e tal qual nos anos anteriores em torno de 3000 participantes, de aproximadamente 70 países distintos, deverão compartilhar as atividades científicas e sócio-profissionais como a confraternização de abertura; celebração do Jubileu pelos 50 anos de existência da WFOT, visitas profissionais; exposição de materiais e equipamentos.
Certamente mais uma vez podemos comprovar a importância da participação em eventos internacionais desta natureza para fins de intercâmbio, conhecimento do “estado da arte” e sobretudo pela oportunidade de divulgação dos trabalhos científicos e acadêmicos aqui desenvolvidos.
Aproximadamente 1650 resumos trabalhos, de 62 países distintos, foram submetidos e selecionados através dos critérios e diretrizes baseadas no ICFDH (International Classification of Functioning, Disability and Health, 2001).
As atividades científicas são constituídas por cursos e workshops de 1-2 dias de duração, conferências magistrais, apresentação de posters e trabalhos orais com temas distintos como por exemplo pesquisa qualitativa; medidas de desempenho ocupacional; técnicas projetivas de arte em grupo; solução baseada em problemas; tratamento holístico em disfunções psicossociais; pratica clínica baseada na evidência; o brincar como avaliação e o brincar como tratamento; justiça ocupacional; o novo ICF e a terapia ocupacional: usos potenciais na prática clínica, no gerenciamento, em pesquisa e educação; terapeutas como consumidores e influenciadores do design da tecnologia assistiva; tecnologia computadorizada; ações para adaptações de acessibilidade e em moradias; desenvolvimento versus disfunção: perspectiva neuro comportamental; relacionamentos sociais e comportamentos de risco; participação e inclusão na educação da criança e adolescente; participação social de crianças portadoras de deficiência, entre tantos outros.
Destacamos também a relevância da difusão do conhecimento e aprendizado nestes eventos internacionais, na esfera nacional, uma vez que tão poucos terapeutas ocupacionais brasileiros têm a oportunidade de participar destes Congressos.
As celebrações ficam na história e na memória, as perspectivas são por um lado alvissareiras e por outro, extremamente desafiadoras.
Cabe a nós, colegas, trabalharmos em conjunto para atingi-las e mais uma vez termos motivo para novas comemorações!
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