Paisagens acolhedoras em um tempo de sutilezas: Ressonâncias da dança em uma clínica corporal em saúde mental/Cozy landscapes in a time of subtleties: Resonance of dance in a body treatment clinic in mental health care
DOI:
https://doi.org/10.4322/cto.2013.059Resumo
A busca por construir paisagens acolhedoras em tempos de sutileza na atenção em saúde mental repousa
numa escolha ética e poética de se construir uma clínica. Este artigo trata de uma pesquisa que objetivou cartografar
uma clínica corporal em saúde mental que se utilizou de práticas diversas nessa perspectiva de acolhimento e
sutileza, dentro de um CAPS do tipo II, em Belém, PA. Dessas práticas, no caminho metodológico que percorremos,
destacamos o trabalho com Danças Circulares Sagradas (DCS) na vivência de um Grupo de Trabalho Corporal do
qual participaram 14 usuários do serviço entre os anos de 2010 e 2012. Lançamos mão da observação participante e
dos registros em caderno de campo para localizar destaques na intensidade dos encontros cujas experimentações com
as DCS colocamos em relevo. Os resultados evidenciam que nas rodas de DCS os usuários do serviço batalharam
por seu espaço, compartilharam suas histórias, cederam e demandaram, afastando-se de quaisquer estereótipos
de passividade, desmotivação ou vitimização que pudessem pairar sobre eles. À guisa de uma conclusão, as DCS
subscrevem a emancipação dos dançantes de funcionamentos “esperados” para a dança, em um território que se
constitui pelo dançar junto e pelo fazer com o outro que enriquece a experiência e sustenta as diferenças. As DCS
no cotidiano dos CAPS reafirmam que ali não é lugar da doença mental mas da saúde mental, em que o relevo é
a vida e o transtorno é apenas parte da existência. As DCS configuraram-se enquanto um lugar potencial de troca.