ESTUDOS SOBRE CULTURA E PROCESSOS CRIATIVOS DE ARTISTAS: REFERENCIAIS PARA A INTERVENÇÃO EM UMA OFICINA TERAPÊUTICA OCUPACIONAL COM PSICÓTICOS
Abstract
No ano de 2004, no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Mandaqui) em São
Paulo, foram realizados atendimentos terapêuticos ocupacionais numa oficina
composta por dez indivíduos diagnosticados como psicóticos. A atividade
realizada foi a construção de robôs utilizando materiais eletro-eletrônicos tais
como televisores, rádios, vídeos cassetes, computadores e outros, que eram
desmontados e remontados em forma de esculturas-robôs. Os conceitos sobre
generalizações do processo criativo e cultura nos auxiliaram na condução da
oficina e na relação do grupo com a construção dos robôs, além de servir como
referencial teórico para a análise apresentada. A transposição de estudos sobre
o processo criativo teve como objetivo compreender a relação dos sujeitos com
a matéria, as suas percepções, o encontro de métodos, o diálogo com a cultura,
enfim, a construção do projeto poético dos participantes. Projetos poéticos são
fios condutores relacionados à obra do artista, no caso, apresentados pelos
psicóticos, que incluem os princípios éticos e estéticos, seus gostos, crenças e
o modo de ação. Questionamos se o fazer destes psicóticos era submetido (ou
não) ao
imprinting cultural, ou seja, ao selo cultural normatizador da sociedade.
Essa maneira de abordar a oficina terapêutica ocupacional criou espaços de
diálogos transgressores, consequentemente, sem ordem lógica, construindo e
resignificando lógicas próprias de cada sujeito através das esculturas. O fazer
psicótico nesta oficina é visto como um ato comunicativo e um processo de
aquisição de conhecimento vivenciado por ações de experimentações próprias,
com estabelecimento de métodos singulares de construção. Os dados
apresentados foram colhidos de forma processual.