Os caminhos da divulgação de conhecimento em terapia ocupacional no Brasil: o papel dos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar
DOI:
https://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoED2303Resumen
O periódico Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar foi gerado em conversas informais entre os docentes do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo se constituído oficialmente em um projeto editorial em 1989.
Vivíamos uma época bastante dinâmica para a terapia ocupacional brasileira e antevíamos a necessidade desta publicação, que canalizaria a divulgação do conhecimento que estava sendo produzido pelos profissionais da área. Já contávamos com trabalhos de boa qualidade, que estavam sendo publicados em revistas de áreas afins, mas precisávamos de um periódico que pudesse centralizar a produção que estava sendo efetivada.
Esta publicação daria suporte também ao grande número de cursos de terapia ocupacional que estavam se instalando no Brasil no final da década de 1980, os quais sentiam a falta de material bibliográfico nacional para melhor fundamentar os conteúdos ministrados, obrigando-os a utilizarem referências prioritariamente estrangeiras.
Tomei a frente desta tarefa, liderando a sua edição por quase dez anos e participando como Editora Associada pelos últimos cinco anos.
Foi também no início da década de 1990 que a terapia ocupacional brasileira começou a formar pesquisadores, mestres e doutores, prioritariamente docentes das universidades públicas do país, pois eram estas instituições que exigiam e ofereciam melhores condições para que tal formação se concretizasse. Embora estes profissionais estivessem se capacitando em programas fora da terapia ocupacional, uma vez que não existiam programas de pós- graduação stricto sensu na área, no país, esta condição possibilitava ampliar a produção de conhecimento específico.
Foi dentro desse contexto que lançamos o primeiro número dos Cadernos de Terapia Ocupacional, em 1990.
No entanto, muitos desafios ameaçaram a continuidade desta publicação.
Apesar de visualizarmos um potencial enorme para a divulgação científica da terapia ocupacional, os profissionais de nossa área tinham pouca experiência com a publicação de artigos. Dizia-se que tínhamos uma tradição oral, que transmitíamos nossos conhecimentos em cursos, palestras e conferências, mas éramos extremamente impermeáveis quando se tratava de escrever artigos científicos. Isso se refletiu em nossa iniciativa de publicação, que sofreu, nos primeiros anos de sua existência, com a dificuldade para receber submissões.
Outro grande desafio que enfrentamos desde o início foi a escassez de recursos para a edição desta Revista, que foi inicialmente financiada pelo Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar e, mais tarde, se tornou possível com recursos da administração central da Universidade Federal de São Carlos. Hoje, além desse apoio financeiro, o periódico recebe também recursos do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Terceira Região, CREFITO-3.
A falta de recursos humanos também foi uma realidade e esta se mantém até os dias de hoje, com um número bastante reduzido de colegas que trabalham para tornar possível a veiculação deste periódico.
A inserção crescente dos profissionais em programas de pós-graduação stricto sensu a partir dos anos 1990 e a criação do Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar em 2010 aumentaram de forma significativa o número e a qualidade dos artigos publicados.
As exigências para uma revista científica foram sendo acirradas durante este período e, por maiores que sejam as dificuldades para atendê-las, estes fatores contribuíram para a profissionalização da Revista, que hoje está em importantes fontes de indexação (LILACS, CINAHL – EBSCO, ProQuest- Social Services Abstracts, ProQuest- Nursing & Allied Health Source, CUIDEN, LATINDEX, OTDATABASE, Periódica, DOAJ - Directory of Open Access Journals, Portal de Periódicos da CAPES e Ulrich’s International Periodical Directory) e encontra-se classificada na categoria B1 do QUALIS CAPES. A Revista aumentou a sua periodicidade, com quatro edições anuais, e também cresceu o número
de artigos publicados em cada número.
Nestes 25 anos de vida, este instrumento divulgou a profissão dentro e fora do país, e acrescentou qualidade à sua produção, tornando-se um dos principais periódicos brasileiros específicos da área.
Após estes anos todos participando do processo de criação e de crescimento dos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, comunico minha saída como Editora Associada da Revista, com a certeza de que a iniciativa de sua criação foi acertada, não só para a divulgação do conhecimento em terapia ocupacional, como também como um veículo que pode estimular e ajudar a alicerçar o pensamento científico e a fundamentação de nossas práticas.