Reflexões contemporâneas sobre trabalho, sociedade e os processos de saúde
DOI:
https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoED2504Resumen
O presente dossiê da Revista “Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional” traz como o eixo temático Sociedade e Trabalho e tem como propósito discutir as novas formas de organização e relações no trabalho, o trabalho como espaço de reprodução da desigualdade. Também busca discorrer sobre a intensificação do uso da sua força de trabalho e suas consequências ao trabalhador como o desgaste físico, mental, emocional e social com repercussões na vida política e cotidiana, fatores estes que podem culminar em adoecimento, acidentes e incapacidades para os trabalhadores. Além disso, visa debater as diferenças e desigualdades que se exacerbam no mundo do trabalho, como as de gênero e deficiência.
Por meio de textos originais, de reflexão, relato de experiência e revisão, o leitor irá se aproximar de um conjunto de estudos que perpassam o mundo do trabalho e sua centralidade na estruturação das demais esferas da vida social. Há um eixo de análise e avaliação de políticas públicas voltadas para a prevenção, proteção e a recuperação da saúde dos trabalhadores que permitirá ao leitor o conhecimento das intervenções do Estado bem como o universo da ação de profissionais no âmbito das instituições públicas e privadas. Também, será possível realizar uma imersão nas problemáticas atuais sobre as interseccionalidades que marcam os processos de exclusão no mundo do trabalho e suas consequências para a organização da vida e das experiências dos sujeitos sociais. As discussões apresentadas perpassam por vivências de serviços, tanto referentes à problemática dos acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho quanto às práticas de proteção social e inclusão das pessoas com incapacidade laboral e/ou pessoas com deficiência. O estudo realizado por Silva, Vendrusculo-Fangel e Rodrigues (2016) corrobora com essas discussões e apresenta um panorama sobre o debate da saúde do trabalhador na sociedade em geral.
O trabalho é a atividade central da existência e da práxis humana. É construtor de sentidos e significados (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 2007). Não apenas as pessoas se produzem por meio do trabalho, como também ele faz parte de processos importantes construtores das relações sociais em uma sociedade capitalista.
Para além da sua centralidade econômica, o trabalho pode promover a identificação com aquilo que se faz e a realização de si na medida em que é um meio essencial para a busca do sentido e do reconhecimento social (LANCMAN et al., 2013). Neste sentido, o trabalho aparece como crucial para a análise social, bem como para o desvelamento das condições de vida e de saúde das populações. Vislumbrar o trabalho como peça estratégica para as reflexões sobre o mundo contemporâneo nos permite ampliar o espectro de análise e encontrar melhores respostas sobre como a sociedade se organiza.
Os artigos apresentados no presente dossiê se encarregam de visibilizar o trabalho no conjunto das relações sociais e de trabalho contemporâneas. Fazem desta forma por perceberem que ele é produto e produtor de sujeitos e, por este motivo, assume uma importante tarefa quando se pensa no processo saúde-doença-atenção.
Entretanto, os autores também desvelam a forma desigual que as relações de trabalho apresentam em diferentes contextos. Se é reconhecido que o trabalho é uma categoria que auxilia a compreender as relações sociais (e, entre isso, o processo saúde-doença-atenção), também é constatado que as desigualdades marcam os processos de trabalho. Diversos determinantes sociais da saúde (DAHLGREN; WHITEHEAD, 1991; BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007) se entrecruzam e irão influenciar as possibilidades de acesso, permanência, progressão e satisfação no trabalho. Pode-se dizer que os determinantes mais importantes apresentados pelos autores que fazem parte deste Dossiê são os de gênero, classe social, deficiência e também os de trabalho, como o físico, o cognitivo/psicossocial e os organizacionais (VALENÇA; ALENCAR, 2017). Mas a eles também somam-se aqueles de raça/etnia, sexualidade e geração.
Como dito, o trabalho em uma sociedade capitalista produz e reproduz as relações sociais e as disfunções organizacionais. As diferenças expressas pelos determinantes sociais da saúde se expressam por meio de desigualdades no mundo laboral. Isso irá ter influência na produção das subjetividades dos trabalhadores, bem como na sua qualidade de vida e condições de saúde e de trabalho.
Assim, os estudos apresentados demonstram como refletir sobre o trabalho é pensar o conjunto da sociedade. Além disso, argumentam que pesquisar a sociedade é essencial para compreender o processo saúde-doença-atenção. Ao entender esta tríade – trabalho, sociedade, saúde – será possível auxiliar na melhoria das condições de vida e de trabalho das populações nas sociedades contemporâneas.
Daniela da Silva Rodrigues
Curso de Terapia Ocupacional, Universidade de Brasília – UnB, Brasília, DF, Brasil.
Mara Takahashi
Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, SP, Brasil.
Éverton Luís Pereira
Departamento de Saúde Coletiva,Universidade de Brasília – UnB, Brasília, DF, Brasil.
Lívia Barbosa
Departamento de Serviço Social, Universidade de Brasília – UnB, Brasília, DF, Brasil.
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